CRMV-RJ e OABRJ promovem I Fórum Cidadania Preto e Branco sobre relações raciais e seus impactos na vida de profissionais da saúde

O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV-RJ), de maneira inédita e inovadora, seguindo os valores da atual gestão, promoveu o “I Fórum Cidadania em Preto e Branco – Como ocupar espaço profissional, deixando de ser exceção e diminuindo desigualdades sociais?”, na última quarta-feira (1º). Em meio aos desafios persistentes de uma dívida social com a população negra, é crucial intensificar esforços em direção a uma sociedade mais inclusiva e equitativa. O evento contou com apoio da Comissão de Direito Médico Veterinário da OABRJ, da Advocacia Preta Carioca (APC-Umoja) e da Afrovet.

O CRMV-RJ ainda estendeu o convite aos outros doze conselhos de categorias profissionais da saúde reconhecidas pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS). O evento teve como objetivo discutir as relações raciais e o impacto delas na vida de profissionais de saúde em meio aos constantes desafios da população negra na ocupação de espaços no mercado e a desigualdade social e racial. Esta ação demonstra o comprometimento com a construção de um diálogo interdisciplinar abrangente, capaz de abordar questões cruciais e promover mudanças reais em nossas comunidades.

A abertura do evento contou com uma mesa diretiva composta pelo presidente do CRMV-RJ, Diogo Alves; a presidente da Comissão de Direito Médico Veterinário da Seccional, Larissa Paciello; a corregedora do Tribunal de Ética e Disciplina (TED) da Ordem e presidente da APC-Umoja, Ângela Borges Kimbangu; a diretora de igualdade racial da OAB-RJ, Ivone Caetano; e os representantes de conselhos regionais do Rio de Janeiro: de Serviço Social da 7ª Região (Cress), Jussara Reis; de Psicologia da 5ª Região (CRP-RJ), Viviane Martins; de Biomedicina da 1ª Região, Raphael Rangel; de Educação Física, Liziane Reis; e os presidentes de Nutrição da 4ª Região, Anna Carolina Rego Costa; e de Biologia da 2ª Região, Gustavo Pessôa.

Na abertura, o presidente do CRMV-RJ, Diogo Alves relembrou que o Brasil, apesar de ter estabelecido igualdade jurídica, “ainda conta com situações segregatórias para isolar o negro”.

“O Brasil é o país com o maior número de pessoas negras fora da África e mesmo com a igualdade de Justiça, ainda há mecanismos que segregam a população negra. Um dos motivos desse encontro foi um caso de injúria racial sofrida por um médico veterinário durante seu expediente. Então, enquanto conselho de classe, insurgimos quanto a perda de autonomia profissional desse colega, que teve sua capacidade técnica questionada por outra pessoa em uma agressão contra não só o profissional, mas também o ser humano. O Conselho e a OAB estão inseridos na sociedade e precisamos trazer temáticas que sejam de interesse social”, constatou Diogo.

A diretora de Igualdade Racial da OABRJ, Ivone Ferreira Caetano, ainda refletiu sobre os enfrentamentos e possibilidades de mercado para pessoas negras.

“São muitas as barreiras e poucas são as conquistas. Mas não desistam, pois, mesmo com as dificuldades, quando a gente persiste, é possível vencer. Tivemos poucos avanços mesmo após 135 anos após a abolição da escravidão. Mas, ultimamente, isso mudou. A população negra antes não podia sequer estudar, já que era proibido por lei e criminalizado. O ódio disseminado contra os negros gerou tudo isso. Ainda não recebemos metade da reparação necessária, e as piores doenças que existem nesse país são o racismo e os vários tipos de preconceito, então é preciso dar as mãos para acabar com o patriarcado e o machismo enraizado na sociedade”, declarou Ivone.

Para a corregedora do TED, a saúde é de interesse da população negra brasileira e não só das pessoas que possuem mais acesso à ela.

“Quando nós, pessoas pretas, não sabemos quem somos, automaticamente adoecemos. Saber sobre suas origens, pretitude e potência, é importante para empoderar-se de sua própria saúde”, disse Angela Kimbangu.

A vice-presidente do CRP-Niterói, Viviane Martins, considerou que a ‘espinha dorsal’ da psicologia é a defesa dos direitos humanos.

“Não há saúde de uma população se não lhe garantem direitos humanos. Vivemos uma trajetória muito difícil, o povo negro tem sua história atravessava por essa não garantia e violação de direitos. 56% da população se declara parda e negra e são essas pessoas que chegaram para solicitar atendimento e suporte nos conselhos e entidades. O Estado do Rio de Janeiro não se furta a essa violação, pois somos o estado que mais mata jovens e agentes de segurança pública pretos nessa disputa de territórios. Não podemos nos calar e nos acostumar com essa situação. Se queremos promover saúde, é preciso oferecer mecanismos para que isso ocorra”, ponderou Viviane.

Também estiveram presentes André Siqueira, diretor jurídico do CRMV-RJ; Antônio Marconi, assessor juridico do Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro (CRF/RJ); Claudia Ferreira Pinto da Silva, membro do eixo de Relações Raciais do CRP/RJ; a vice-presidente do CRBio-02 Gabriela Couto; a conselheira secretária do CRBio-02, Raquel Vial; o assessor jurídico do CRBio-02, Sr. Willian da Silva; e assessora da diretoria do CRBio-02, Viviane Lima.

É possível assistir a primeira parte do encontro na íntegra pelo canal da Seccional no YouTube.

Contribuição por palestras

No período da tarde, o evento contou com importantes palestras de profissionais que compartilharam suas visões e experiências sobre as complexidades e desafios enfrentados por indivíduos de origens étnicas diversas em suas carreiras e no sistema de saúde como um todo.

O médico-veterinário Wellington Costa, contribuiu com seu relato e experiências no campo da Medicina Veterinária. No início de outubro, o profissional sofreu injúria racial durante seu exercício profissional, por parte de uma empresária, em Campos dos Goytacazes.

Posteriormente, a médica-veterinária Merielen Silva Albuquerque, abordou o tema “AFROVET e a falta de visibilidade dos profissionais negros na medicina veterinária”, introduzindo a roda de conversa entre os presentes, que teve como tema “o que fazer no dia a dia para mudar o cenário?”.

Finalizando o evento, a enfermeira Gabriella Bitancourt compartilhou suas experiências e insights sobre os desafios enfrentados pelas mulheres negras no sistema de saúde, apresentando dados relevantes para o tema.

“Gostaria de agradecer em nome do CRMV-RJ a presença de todos os representantes dos conselhos presentes. Esse é o primeiro Fórum de muitos outros outros. A semente foi plantada e daqui para frente os frutos virão. Não podemos desistir”, finalizou o conselheiro suplente do CRMV-RJ, Aguinaldo Francisco Mendes Junior.

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