Presidente da Comissão de Saúde Única do CRMV-RJ e pesquisador ICTB/Fiocruz dá dicas de como prevenir a Leishmaniose após suspensão de vacina no Brasil

Com a suspensão da produção e comercialização da única vacina contra a Leishmaniose aprovada no Brasil para controlar a enfermidade em animais, torna-se ainda mais crucial, durante a Semana Nacional de Controle e Prevenção da Leishmaniose deste ano, fornecer diretrizes aos responsáveis sobre medidas preventivas essenciais contra essa significativa zoonose em animais.

Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um desafio de saúde pública no país, a leishmaniose é uma enfermidade infecciosa provocada pelo protozoário pertencente ao gênero Leishmania, que afeta tanto seres humanos quanto animais, incluindo cães. A transmissão desse agente ocorre exclusivamente por meio da picada de insetos vetores fêmeas infectados, conhecidos como flebotomíneos ou popularmente chamados de “mosquito-palha”.

O médico-veterinário Paulo Abilio Varella Lisboa, que é presidente da Comissão de Saúde Única do CRMV-RJ e pesquisador ICTB/Fiocruz, explicou que os dados referentes a incidência e prevalência da doença em cães e gatos é desconhecido. Segundo o profissional, em alguns trabalhos pode-se estimar que cerca de 1 a 3% de toda população canina possa estar infectada, podendo estar na condição assintomatica, infectada com sinais leves (principalmente alterações da pele) ou sinais graves.

“Regiões como o Sul do Estado do Pará, Piauí, Maranhão, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso, regiões dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina tem apresentado maiores concentrações dos relatos e dos casos. Mas hoje a doença pode ser considerada endêmica em grande parte do Brasil”, explicou.

Lisboa esclareceu que, apesar do esforço do Ministério da Saúde e talvez ainda refletindo um cenário de pandemia e pós pandemia, percebe-se um aumento dos casos de Leishmaniose em pessoas, que deve ser um alerta para os órgãos de saúde humana e animal, bem como ambiental, considerando o vetor de transmissão ser presente em grande parte do território nacional e se reproduzir em ambiente de lixo e matéria orgânica.

“Infelizmente em animais só temos dados localizados as vezes municipais e estaduais. Não temos um cenário da população de animais infectados, doentes ou eutanasiados com a doença, o que é no mínimo preocupante, sem dados epidemiológicos, não temos como saber onde e como agir”, disse.

Paulo Abilio ainda esclareceu que a suspensão da vacina de leishmaniose no Brasil representa um retrocesso no enfrentamento da doença.

“A vacina era eficaz e funcionava como uma dupla defesa no ciclo de transmissão. Mas o produto precisa estar dentro do preconizado e ser confiável ao que se propôs. Esperamos que tudo seja solucionado e tenhamos novamente uma vacina contra leishmaniose no Brasil. Não dispomos de forma efetiva da cobertura vacinal de leishmaniose [no Brasil]. Como era uma vacina não essencial, de acordo com os guidelines da Associação Mundial de Clínicos de Pequenos Animais (WSAVA), existia certa resistência em relação a sua utilização. Mas certamente assim como tínhamos subnotificação, também não tínhamos uma cobertura ampla”, completou.

O profissional também explicou que a vacina era um produto que exigia a revacinaçao anual, portanto, certamente os animais vacinados até a suspensão devem ser considerados imunizados. Já os que precisariam revacinar este ano ou deveriam começar o protocolo, segundo Paulo Abílio “infelizmente vão perder a proteção da vacina e neste cenário é importante reforçar as ações de prevenção com produtos repelentes na forma de coleiras ou pipetas, alinhados a conceitos de imunonutrição”.

“Na falta da vacina, todas as ações devem ser focadas no uso de substâncias repelentes e inseticidas (no mesmo produto), a base de piretroides, seja na forma de coleiras ou de pipetas. Reforçar também nutraceuticos que possam contribuir com o aumento da imunidade dos animais saudáveis. E nos animais doentes, realizar o tratamento orientado por um médico-veterinário e todo o acompanhamento clínico destes animais. Reforçar também o papel do médico-veterinário como um agente de Saúde Pública, na identificação, diagnóstico, tratamento, prevenção, orientação ambiental e na educação em Saúde no enfrentamento a leishmaniose”, finalizou.

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