Dia Mundial de Combate ao Câncer: Confira as dicas da oncologista médica-veterinária

Assim como acontece com os humanos, os animais também podem ser acometidos por diferentes tipos de cânceres. Lidar com essa situação não é nada fácil e, justamente por isso, quanto mais informado você estiver sobre a situação, mais eficaz será a prevenção e/ou a preparação para enfrentar o tratamento do seu amigo de quatro patas.

Nesta sexta-feira, dia 4 de fevereiro, é comemorado o Dia Mundial de Combate ao Câncer. E com objetivo de alertar os responsáveis por animais sobre a doença, o CRMV-RJ entrevistou a oncologia veterinária Simone Carvalho dos Santos Cunha (CRMV-RJ 8129).

Confira:

  • Existe uma causa para o câncer em animais?

O câncer é multifatorial, ou seja, surge devido a uma combinação de fatores genéticos e ambientais. A influência genética é importante, já que determinadas raças têm maior predisposição em desenvolver determinados tipos de tumores e mutações de genes são identificadas em muitos pacientes oncológicos. Quanto aos fatores ambientais, há diversos carcinógenos conhecidos, mas os mais associados ao câncer em cães e gatos são a radiação ultravioleta, vírus, hormônios e tabaco.

  • Quais as raças mais afetadas pela doença?

Todos os animais são suscetíveis ao câncer, principalmente os mais idosos. No entanto, alguns tipos de câncer são mais frequentes em determinadas raças, como por exemplo, o Boxer e Buldogue (que têm alta incidência de mastocitoma e neoplasia cerebral), o Bernese (que tem alto risco de desenvolver tumores histiocíticos), os schnauzers (que tem maior incidência de carcinomas hepáticos), e os Golden Retrievers (que frequentemente têm linfomas e sarcomas). Gatos siameses também têm maior risco de desenvolverem câncer de mama e um tipo de câncer de pele (mastocitoma). A cor da pelagem influencia no aparecimento de tumores de pele (animais de pelagem branca estão mais suscetíveis à radiação ultravioleta). E por fim, animais de grande porte (incluindo Rottweiller, Pastor alemão e Labrador) têm alta frequência de tumores ósseos.

  • Quais são os tipos mais comuns de câncer em animais?

Os tipos de câncer mais comuns em cães e gatos são os de mama, de pele (incluindo mastocitomas e carcinomas epidermóides) e linfoma.

  • Quais os sintomas da doença?

Os sintomas são extremamente variáveis (dependendo do tipo e localização do câncer), mas é importante ressaltar que a maioria dos animais só demonstra sintomas quando a doença está avançada, e por isso a consulta e exames veterinários de rotina são importantes para o diagnóstico precoce. De forma geral, os sintomas são a presença de nódulos e/ou inchaços, odores fortes (como por exemplo na boca e ouvido), feridas que não cicatrizam, secreções anormais (por exemplo sangramentos ou pus de cavidades do corpo), perda de apetite, emagrecimento, dificuldade de respirar e prostração.

  • Existe uma forma de prevenir o câncer em animais?

De forma geral, o mais importante é levar o animal para consultas veterinárias rotineiramente, e a realização de exames de check-up (incluindo exames hematológicos e de imagem) periodicamente. Alguns animais têm doenças de base (como por exemplo doenças hormonais em cães , e viroses em gatos) que , quando diagnosticadas e tratadas precocemente, podem evitar ou retardar o desenvolvimento de determinados tipos de câncer.

Já foi provado que a castração precoce diminui muito a incidência de câncer de mama em animais. Para termos uma ideia, se a castração for realizada antes do primeiro cio (aos seis meses de idade) em cadelas, a chance de ter um câncer de mama no futuro é de menos de 1%. Após o segundo cio, essa chance aumenta para 8%, e após o terceiro, para 26%. Também, os anticoncepcionais veterinários podem aumentar as chances de desenvolver este tipo de câncer, e por isso devem ser evitados.

Já em animais despigmentados (de pelagem branca), devemos evitar que peguem sol nas horas mais quentes do dia, e ficar atentos à presença de crostas ou vermelhidão/feridas na pele, que podem evoluir para câncer.

  • O que fazer em caso de suspeita de câncer?

É importante levar o animal em um veterinário especializado em oncologia para a realização do diagnóstico, estadiamento tumoral e planejamento terapêutico. De forma geral, quanto melhor planejado for o tratamento desde o início (por exemplo, a realização de cirurgias com margem adequada, biópsia do linfonodo sentinela, e indicação de terapia adjuvante adequada), maiores são as chances de sucesso.

  • Como é feito o tratamento?

Na medicina veterinária, há várias modalidades de tratamento do câncer, incluindo cirurgia oncológica, quimioterapia, radioterapia, eletroquimioterapia, criocirurgia, dentre outras. O tipo de tratamento indicado varia com o tipo e localização do tumor. A cirurgia tem o objetivo de retirar rapidamente o câncer, sendo o tratamento mais indicado, já que fornece na maior parte das vezes o controle local da doença. A radioterapia tem indicação apenas quando a cirurgia não foi completa (restando células tumorais no local) ou não é possível (por exemplo massas muito grandes ou que estejam em localizações cuja cirurgia comprometeria a qualidade de vida do animal). Já a quimioterapia é indicada para tumores disseminados pelo organismo (como é o caso de linfomas ou metástases) ou quando a chance de metástase é muito alta, mesmo após a cirurgia completa.

  • Quais são os efeitos da quimioterapia em animais?

A quimioterapia sistêmica atua em todas as células em proliferação no organismo, podendo causar náuseas, diarreia, perda de apetite e baixa de imunidade. No entanto, há diversos tipos de quimioterapia (incluindo injetáveis e comprimidos, com doses convencionais ou em esquema metronômico) e cada organismo reage de um jeito. Pela minha experiência pessoal, digo que a maioria dos animais tolera a quimioterapia muito melhor que os seres humanos, pois eles não têm a consciência de que estão com câncer ou fazendo quimioterapia, e fazendo um bom tratamento de suporte (para evitar a náusea e infecções secundárias), a maioria tolera bem. Mas é importante que o veterinário responsável avalie os prós e contras da quimioterapia para cada paciente, já que pacientes com tendência à gastroenterite, problemas renais e hepáticos podem não ser bons candidatos.

Simone Cunha

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Graduação pela Universidade Federal Fluminense/UFF (2005), mestrado pela Universidade Federal Fluminense/UFF (2009) e doutorado pela Universidade Federal Fluminense/UFF (2013) com ênfase em oncologia de felinos. Três pós-doutorados em oncologia veterinária pela Universidade Federal Fluminense/UFF (2016, 2019 e 2021). Membro da ABROVET (Associação Brasileira de Oncologia Veterinária). Co-Autora do livro “Oncologia Felina”. Trabalha na Oncopet Veterinária, especializada em oncologia de cães e gatos.

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