Como o fungo Sporothrix brasiliensis, descoberto no Brasil, se tornou um problema de saúde pública

Antes de 1990, o fungo Sporothrix brasiliensis era conhecido apenas no sudeste do Brasil, próximo de São Paulo e Rio de Janeiro, segundo dados do Centers for Disease Control and Prevention (Centros de Controle e Prevenção de Doenças, traduzido). Em 2018, no entanto, casos de esporotricose — uma infecção fúngica causada por S. brasiliensis — foram identificados em mais oito estados nas regiões sul e leste do Brasil.

Entre 1998 e 2016, foram identificados mais de 4,5 mil casos humanos disseminados por gatos. S. brasiliensis também foi encontrado recentemente na Argentina e no Paraguai e existe a preocupação de que ele possa se espalhar para outros países através do trânsito de animais doentes.

O fungo pode se disseminar diretamente de um animal infectado para uma pessoa ou para outros animais e deixá-los doentes com esporotricose. As pessoas podem contrair esporotricose causada por S. brasiliensis pela mordida ou arranhão de um gato infectado. Outras espécies de Sporothrix raramente se disseminam pelo contato com animais. Quando as pessoas contraem infecções por S. brasiliensis por gatos, os sintomas são semelhantes ou mais graves que os da esporotricose causada por outras espécies de Sporothrix.

O pesquisador e coordenador do Programa de Saúde Única ICTB/Fiocruz e presidente da Comissão de Saúde única do CRMV-RJ, Paulo Abílio Varella Lisboa, explicou como o fungo presente no solo e algumas plantas acabou virando uma emergência pública.

“Estudos filogenéticos verificaram uma transição morfológica em resposta à temperaturas mais altas permitindo assim maior dimorfismo em relação a outras espécies fúngicas e múltiplas estratégias evolutivas adaptativas, condição. Especificamente o Sporothrix brasiliensis mostrou desenvolvimento bem sucedido de células germinativas e mudança de padrão de algumas de enzimas degradadoras, que tem sugerido um processo de adaptação evolutiva de plantas para hospedeiros animais, caracterizando um salto hospedeiro da transmissão de planta para animais”, contou.

Ele ainda emendou dizendo que, ao longo da estória, a doença dos criadores de rosa ou de jardineiro foi a forma clássica de transmissão ambiental, porém um segmento clonal altamente virulento está associado a infecção a animais e transmissão zoonótica por arranhões, mordida e feridas a partir do contato de gatos infectados.

“Esse salto distingue a doença transmitida de forma ocupacional da transmissão por gatos. Desta forma com o aumento da população felina a partir de abandonos e da falta de políticas públicas para controle populacional ou adoção, associado a aquecimento global constante, acumulo de lixo ou ausência efetiva de projetos de saneamento básico e recolhimento de lixo que acarretam o aumento da população de roedores, certamente fazem com que a esporotricose se configure em um risco endêmico e epidêmico e um doença exemplo dentro do contexto da Saúde Única”, declarou Paulo Abílio.

A principal forma de prevenção, de acordo com o profissional, é evitar o contato com animais infectados e, no caso de haver a necessidade da manipulação, utilizar equipamentos de proteção individual.

“Infelizmente não existe uma forma efetiva de prevenção. A orientação é a desinfecção das instalações ou dos locais onde estes animais ficam, o isolamento dos animais doentes até a cura efetiva. Estratégias de monitoração ambiental e inquéritos brutos podem auxiliar na identificação de áreas onde a doença tenha maior disseminação. O médico-veterinário é o profissional habilitado e preparado para o manejo adequado de animais infectados, da mesma forma que possui o conhecimento relativo aos métodos de diagnóstico e tratamento, possui papel relevante na identificação da doença, no atendimento clínico de rotina e atenção primária, e como ação de saúde pública realizando a notificação aos serviços de vigilância e orientação aos tutores”, declarou.

Vale destacar que no município do Rio de Janeiro a notificação pode ser realizada de forma online através do link.

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