Após relatos de casos no Rio de Janeiro de intoxicação por petiscos supostamente contaminados, CRMV-RJ orienta tutores e médicos-veterinários sobre condutas adequadas

Diante de denúncias recebidas pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV-RJ) acerca das supostas intoxicações e óbitos de cães que ingeriram petisco com suspeita fundamentada de contaminação por monoetilenoglicol e visando orientar responsáveis pelos animais e médicos-veterinários, esta autarquia, juntamente com a médica-veterinária com ênfase em hematologia clínica e conselheira do CRMV-RJ, Flávia Fernandes de Mendonça Uchôa (CRMV-RJ 7392), indicam as condutas a serem adotadas nesses casos.

Perante os riscos iminentes à saúde de animais, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) determinou, na sexta-feira (2), o a interdição da fábrica Bassar Indústria e Comércio Ltda e o recolhimento nacional de todos os lotes de produtos da empresa. O Mapa já coletou as amostras dos produtos, que estão sendo encaminhadas aos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária do Ministério para análise.

Há relatos de que os sintomas apresentados pelos animais acometidos incluem comprometimento hepático, com vômito, diarreia, abatimento e prostração, em quadro que avança rapidamente para insuficiência renal grave. Em todos os casos, o médico-veterinário e a médica-veterinária devem realizar um exame clínico completo, com histórico detalhado, formulação de prováveis diagnósticos, coleta de exames complementares e até mesmo a indicação de necropsia em caso de óbito.

“Essa intoxicação é extremamente grave, e o prognóstico irá depender do tempo entre a ingestão e o início do tratamento. Quanto mais rápido for o atendimento, maior será a chance de sobrevivência e menores as sequelas da intoxicação. O paciente necessitará de terapia intensiva, suporte para as alterações neurológicas, renais e gastrointestinais, com monitoramento e observação constantes”, informou Flávia.

De acordo com a profissional, o etilenoglicol não é encontrado somente em petiscos. “Ele pode ser detectado em uma variedade de produtos domésticos (medicamentos, produtos para limpeza, cosméticos, verniz, tintas, entre outros), por isso precisamos ter bastante atenção e cuidado com a sua ingestão pelos pets.

Os efeitos sistêmicos da intoxicação incluem a acidose metabólica (acidificação do pH sanguíneo), irritação do trato gastrointestinal, depressão do sistema nervoso central e edema cerebral”.

Além disso, o etilenoglicol dá origem a um metabólito tóxico que ocasiona a necrose dos túbulos renais e a formação de cristais”. O etilenoglicol é rapidamente absorvido após a sua ingestão (em 30 minutos ele já pode ser encontrado na circulação) e os sintomas irão depender da quantidade consumida pelo animal. De 30 minutos as 12h após a ingestão podem ser observados: vômitos, poliúria e polidipsia, depressão, letargia e ataxia. De 12h a 72h após a ingestão são observados: insuficiência renal, desidratação, sintomas cardiorrespiratórios, vômitos, diarreia, salivação, convulsões e coma”, acrescentou.

Uchôa ainda informou que, se o atendimento for feito imediatamente após a ingestão do produto, pode ser feita uma lavagem gástrica por um profissional médico-veterinário habilitado para a remoção do etilenoglicol que ainda não foi absorvido, prevenindo a ocorrência ou minimizando a intoxicação. Como sua absorção é muito rápida, normalmente não há tempo de se realizar essa manobra.

“Após a intoxicação, é realizado o tratamento de suporte para os sinais e sintomas clínicos, fluidoterapia, correção da acidose e a aplicação de antídoto (Etanol ou Fomepizol)”, concluiu.

Nas situações em que o quadro do animal evoluir para óbito, o paciente deve ser congelado e submetido a uma necropsia, para a coleta de fragmentos de órgãos e conteúdo gastrointestinal. Pode ser realizado o exame toxicológico destes fragmentos e de amostras sanguíneas.

O Conselho reforça a relevância da atuação dos responsáveis técnicos nos estabelecimentos que comercializam produtos para uso veterinário, uma vez que cabe a esses profissionais verificar a conformidade dos produtos comercializados, retirando-os, inclusive, de circulação/comercialização até o total esclarecimento.

Dados

Nesta segunda-feira (5), conforme divulgado pelo G1 Minas, “a Polícia Civil de Minas Gerais informou que já recebeu relatos de cerca de 40 mortes de cachorros no Brasil após a ingestão de petiscos com suspeita de contaminação”. A reportagem ainda esclarece que “há relatos de mortes em pelo menos oito estados, além de Minas Gerais e do Distrito Federal: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Alagoas, Sergipe e Goiás”.

Flávia Fernandes de Mendonça Uchôa

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Fluminense, especialização em Microbiologia e Parasitologia Aplicadas pela Universidade Federal Fluminense, Mestrado em Microbiologia e Parasitologia Aplicadas pela Universidade Federal Fluminense e Doutorado em Medicina Veterinária (Clínica e Reprodução Animal) pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente é Responsável Técnica e proprietária do Laboratório Clínico Veterinário Flávia Uchôa. Tem experiência na área de Medicina Veterinária, com ênfase em diagnóstico laboratorial, atuando principalmente nos seguintes temas: Patologia Clínica Veterinária, Hematologia, Parasitologia, Diagnóstico molecular e Imunodiagnóstico.

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