O Halloween real da Medicina Veterinária brasileira: o susto está na formação profissional

Em pleno Dia das Bruxas, o verdadeiro “terror” da Medicina Veterinária brasileira não está nas fantasias ou nas abóboras iluminadas, mas na realidade de uma formação cada vez mais ameaçada pela expansão desenfreada de cursos e pela crescente oferta de vagas no formato de Educação a Distância (EaD) e semipresencial.

O Brasil já soma quase 600 cursos de Medicina Veterinária, segundo dados do e-MEC — um número que, à primeira vista, poderia parecer motivo de comemoração. No entanto, o excesso de instituições e a falta de estrutura adequada em muitas delas vêm gerando consequências preocupantes para a profissão.

O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV-RJ) destaca que entre os principais problemas estão o excesso de cursos e vagas, o avanço de modelos de ensino semipresenciais, a deficiência de infraestrutura e corpo docente em algumas instituições e a grande quantidade de formações sem a devida qualidade técnica e prática.

Essas falhas na base do ensino resultam em um cenário de formação deficitária, excesso de profissionais no mercado, desvalorização da profissão e até mesmo em um aumento expressivo dos processos éticos no Sistema CFMV/CRMVs. O impacto vai muito além do âmbito acadêmico — afeta a credibilidade da Medicina Veterinária e, sobretudo, a segurança e o bem-estar dos animais e da população.

EAD, centenas de faculdades e baixa qualidade na formação profissional… Esse é o Halloween real da Medicina Veterinária brasileira.

Diante desse cenário, o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Medicina Veterinária vêm defendendo uma série de medidas urgentes para conter essa expansão descontrolada e garantir a qualidade do ensino. Entre as ações sugeridas estão:

– Impedir a abertura de novos cursos até que haja uma avaliação criteriosa da qualidade das instituições existentes;
– Encerrar cursos que não atendam aos padrões mínimos exigidos;
– Proibir a formação semipresencial em Medicina Veterinária, preservando o caráter essencialmente prático e presencial da profissão;
– Criar um selo de acreditação para instituições de ensino superior, reconhecendo aquelas que mantêm excelência acadêmica e estrutura adequada;
– Implementar a certificação profissional, obrigatória ou voluntária, como forma de valorizar o médico-veterinário e assegurar padrões técnicos;
– Ampliar a transparência dos dados sobre cursos e profissionais, por meio de portais de acesso público, permitindo que a sociedade e os futuros estudantes possam avaliar a qualidade das formações disponíveis.

O CRMV-RJ reforça que o compromisso com a vida animal e com a saúde pública começa na sala de aula. A qualidade da formação é o alicerce que sustenta a ética, a técnica e a confiança na atuação profissional.

Neste Halloween, o alerta é real: a Medicina Veterinária brasileira não precisa de sustos, mas de responsabilidade, compromisso e educação de qualidade.

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