CRMV-RJ atua no atendimento de mais de 800 animais silvestres resgatados pela Polícia Civil na maior operação da história contra o tráfico no país

O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV-RJ) atuou de forma direta no atendimento e avaliação de mais de 800 animais silvestres apreendidos durante a “Operação São Francisco”, considerada a maior já realizada no Brasil contra o tráfico de animais, armas e munições. Os atendimentos foram feitos pela Comissão de Animais Silvestres e Pets Não Convencionais do CRMV-RJ, representada pelo médico-veterinário Jeferson Rocha Pires, presidente da Comissão, na base montada pela Polícia Civil na Cidade da Polícia (CidPol), no Departamento de Polícia Técnica.

“Nos deparamos com animais em condições extremamente delicadas. Muitos apresentavam sinais de maus-tratos, estresse e debilidade física, alguns já sem vida. Entre eles, espécies ameaçadas de extinção. Nosso trabalho foi garantir avaliação clínica, dar suporte emergencial e encaminhar para os centros de triagem, para que tenham chance de reabilitação e, quando possível, retorno ao habitat natural. O tráfico de animais é um crime que fere não só a fauna, mas todo o equilíbrio ambiental”, ressaltou Pires.

A operação, deflagrada nesta terça-feira (16), foi coordenada pela Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) com apoio da Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade (Seas), do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), do Ministério Público, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, do Ibama e de outras forças de segurança. Segundo a Polícia Civil, 47 pessoas foram presas e aproximadamente 270 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em diferentes regiões do Rio de Janeiro, além de São Paulo e Minas Gerais.

Esquema criminoso

O titular da DPMA, delegado André Prates, destacou a estrutura e a brutalidade da organização criminosa desarticulada.

“Participaram da ação centenas de homens, todos os equipamentos da Secretaria de Polícia Civil e, após um ano de investigação, conseguimos identificar essa grande organização criminosa responsável por receptar de forma extremamente volumosa diversos animais silvestres. Esses animais muitas vezes vinham do Nordeste, Norte, Centro-Oeste, Minas Gerais e também das nossas serras fluminenses, como Teresópolis e Petrópolis. Identificamos um esquema que forçava o nascimento de aves em estufas improvisadas e, logo depois, os filhotes eram transportados de forma cruel até os centros urbanos. Esses criminosos falsificavam documentos e anilhas para dar aparência de legalidade e elevar o valor dos animais. Além disso, havia um núcleo diretamente ligado ao tráfico de drogas, que fornecia armas e munições, mostrando que essas frentes atuavam de forma integrada”, explicou Prates.

De acordo com o delegado, muitos animais eram capturados na própria Floresta da Tijuca. Para isso, os criminosos dopavam primatas com clonazepam misturado em alimentos, levavam os filhotes e os vendiam em feiras clandestinas e comunidades por valores que variavam entre três e cinco mil reais.

O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, ressaltou o impacto internacional do tráfico de animais e a fragilidade da legislação brasileira.

“Entre as práticas criminosas que mais movimentam dinheiro no mundo estão o tráfico de drogas, de armas e de animais. São de 8 a 20 bilhões de euros por ano no mundo inteiro. E no Brasil, infelizmente, a resposta penal ainda é branda, o que fomenta a prática. Quem alimenta esse ciclo são as pessoas que adquirem esses animais ilegalmente”, destacou Curi.

Alerta à sociedade

Além do atendimento emergencial aos animais, o CRMV-RJ reforça a importância da conscientização da sociedade para romper o ciclo criminoso que explora a fauna brasileira.

“Não existe tráfico sem comprador. Cada animal adquirido ilegalmente representa sofrimento, morte e desequilíbrio ambiental. É um rastro de sangue, como disse o delegado. O CRMV-RJ seguirá atuando para garantir o bem-estar dos animais resgatados, mas é essencial que a sociedade compreenda a gravidade do problema e nunca adquira animais silvestres fora das vias legais”, concluiu Jeferson Rocha Pires.

Os animais resgatados na operação foram avaliados na base montada na Cidade da Polícia e seguirão para centros de triagem credenciados, onde receberão os cuidados necessários até a destinação final adequada.

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