Audiência na Alerj discute soluções sustentáveis para a superpopulação de gatos na Ilha Furtada, em Mangaratiba

A situação dos gatos que vivem na Ilha Furtada (conhecida como Ilha dos Gatos) foi tema de uma audiência pública realizada nesta quinta-feira (4 de dezembro), na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), com foco de discutir ações conjuntas baseadas no conceito de Uma Só Saúde.

A Ilha Furtada, situada em Mangaratiba, na Costa Verde, convive há décadas com a superpopulação de felinos. Registros históricos apontam que, na década de 1950, gatos teriam sido deixados no local após uma tentativa de ocupação humana. A ausência de manejo contínuo, aliada ao isolamento geográfico, possibilitou o crescimento descontrolado da população animal e sua feralização. Atualmente, os felinos vivem sem acesso regular a água potável, alimentos ou cuidados veterinários, além de interagir com a fauna silvestre, gerando riscos ambientais e sanitários.

A audiência foi presidida pelo deputado Carlos Minc, presidente da Comissão de Representação para Acompanhar o Cumprimento das Leis da Alerj (Comissão Cumpra-se). Também compuseram a mesa o deputado Marcelo Dino, presidente da Comissão de Defesa e Proteção dos Animais da Alerj; José Eduardo Mayhe Ferreira, embaixador do CRMV-RJ na Costa Verde, presidente da Comissão de Gestão de Riscos de Animais em Desastres e presidente da Comissão de Meio Ambiente do CRMV-RJ; Adilson Câmara, subsecretário de Meio Ambiente de Mangaratiba; Tenente-Coronel veterinária da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ), Fabíola Pinheiro; Andressa Ferreira da Silva, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ); e Carla de Freitas Campos, diretora adjunta do ICTB/Fiocruz e integrante de comissões do CRMV-RJ.

As exposições técnicas abriram o debate: Carla de Freitas Campos, do ICTB/Fiocruz, apresentou o projeto de extensão e pesquisa “Estratégia de Uma Só Saúde na Ilha Furtada”, que busca integrar ações voltadas ao bem-estar animal, saúde pública e conservação ambiental. Andressa Ferreira da Silva, da UFRRJ, apresentou o estudo “Diagnóstico e Monitoramento de Toxoplasma gondii na Ilha Furtada e Costa Verde (RJ)”, apontando que a região tem 10% mais probabilidade de ocorrência do parasita em relação a outras áreas costeiras — um dado que pode estar associado ao impacto sobre golfinhos, tartarugas e outros animais marinhos.

Já a Diretora de Projetos e Planejamento da Secretaria de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas de Mangaratiba, a geógrafa Raquel Brasilino, apresentou o Programa de Manejo Ético dos Gatos da Ilha Furtada, abordando o histórico local, o potencial turístico da área e o desafio de manejo a apenas 90 km da capital fluminense.

O deputado Carlos Minc destacou a origem e a gravidade do problema.

“O descarte de animais afeta todo o ecossistema. É preciso alertar para o tamanho da consequência de uma irresponsabilidade original para todo o sistema. Algo que parecia sem grande impacto tornou-se um problema complexo e urgente”, disse.

Representando o CRMV-RJ, José Eduardo Mayhe Ferreira reforçou a necessidade de atuação articulada.

“O CRMV-RJ, no seu papel articulador, reuniu todas as instituições para resolver o problema da Ilha dos Gatos. Não adianta apenas retirar os animais se não conseguirmos coibir o abandono. É preciso um trabalho integrado em toda a região para impedir o descarte de animais”, declarou.

A audiência marcou um passo significativo na construção de uma política pública consistente e intersetorial, reconhecendo a importância da ciência, da gestão ambiental e do papel dos médicos-veterinários na busca de soluções éticas e sustentáveis para a Ilha dos Gatos.

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