
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) indica avanços importantes no processo de masculinização da tilápia usando o sistema de bioflocos (BFT), que permite a redução da concentração de hormônio e traz sustentabilidade à produção.
A masculinização é uma técnica largamente utilizada nas produções de tilápia ao redor do mundo com a finalidade de evitar que ocorram reproduções indesejadas e conferir uniformidade aos lotes, aspectos essenciais para o crescimento e a produção. Esse procedimento consiste em transformar todos, ou quase todos os indivíduos em machos e, para isso, geralmente é utilizado o hormônio metiltestosterona (MT).
O uso de hormônio na ração para esse fim não gera pressões por parte dos mercados ou consumidores em relação a uma possível contaminação da carne, pois sobram comprovações científicas mostrando que a MT é excretada após a fase de tratamento com hormônio, que dura poucos dias, portanto, não configura um risco para a saúde humana. No entanto, esse manejo é geralmente realizado em viveiros, que demandam trocas de água periódicas e, muitas vezes, liberam os efluentes em corpos d’água naturais, gerando impactos ambientais.
O BFT é uma tecnologia de produção intensiva em sistema fechado, que pode servir como uma alternativa à masculinização tradicionalmente realizada em viveiros. O BFT possibilita o maior controle da temperatura, o uso de densidades mais altas do que em viveiros, a “troca zero” ou trocas mínimas de água, e o tratamento da água, se destacando, então, por sua sustentabilidade.
Esse estudo avaliou as taxas de maculinização de tilapia o Nilo no BFT utilizando concentrações de MT menores do que a comumente usada em viveiros (60 mg por kg de ração). Os pesquisadores realizaram testes com larvas de tilápia e utilizaram quatro concentrações de MT diferentes, ofertadas na dieta durante 28 dias.
Os resultados mostraram que foi possível reduzir pela metade (30 mg por kg de ração) a concentração MT e alcançar uma eficácia de 99% na masculinização, considerada alta e suficiente para a produção. Essa redução da concentração de MT tem papel determinante na diminuição dos impactos ambientais, pois impede a liberação de hormônio no meio ambiente. Além disso, não foi detectada a presença de resíduos de MT na água após 12 horas decorridas da última alimentação contendo hormônio.
O estudo foi parte da tese de doutorado do zootecnista Dr. José Fernando Paz Ramírez (CRMV- RJ 820/Z), e estão disponíveis no artigo intitulado “Reduction of methyltestosterone concentration in feed during masculinization of Nile tilapia (Oreochromis niloticus) in biofloc system”, publicado na revista internacional Aquaculture.
Estas descobertas demonstram ser possível realizar esse procedimento fazendo uso racional da água e eliminando os riscos de contaminação por metiltestosterona no ambiente natural. Mais ainda, têm impacto direto no cenário global da produção de tilápia, ofertando um protocolo de masculinização novo, ambientalmente sustentável, e de acordo com os anseios do mercado.
