Conheça as principais doenças infecciosas que acometem cães e gatos e saiba como preveni-las

Desde que nascem, os pets precisam de cuidados com a sua saúde. Nutrição adequada, companhia constante e regular, limpeza do local em que vivem, visitas ao médico-veterinário e vacinação regular são apenas alguns meios de prevenção as doenças mais comuns em cães e gatos. 

Essa prevenção é necessária porque, mesmo tendo tratamento, algumas dessas enfermidades podem trazer consequências graves para os animais. Pensando nisso, o CRMV-RJ e o médico-veterinário Clayton Bernardinelli Gitti destacaram as principais doenças que acometem os pets, o que causam e como preveni-las.

Leia:

1. Quais são as principais doenças que acometem os animais e o que elas causam?

Podemos relacionar diferentes doenças a partir do enfoque que se pode dar. Há doenças de alto impacto na saúde dos animais, doenças que são zoonóticas ou aquelas doenças que ocorrem com maior frequência na região considerada. Ao escolher apenas um desses grupos deixaria de citar algumas importantes doenças e, para  evitar que isso aconteça,  comentaremos sobre doenças dos três grupos. 

Abaixo citaremos algumas características importantes e de forma bem resumida. 

Nos cães, podemos citar:

— Cinomose – Doença viral multissistêmica que provoca lesões em diferentes órgãos e irão refletir nos principais sinais clínicos que são vômito, diarreia, corrimento nasal, tosse e pneumonia, pústulas no abdome, hiperqueratose nos coxins finalizando com sinais neurológicos que irão provocar tremores musculares, incoordenação motora e convulsões. A doença tende a evoluir ao óbito e aqueles que se recuperam, costumam apresentar sequelas.

— Complexo das Gastrenterites Hemorrágicas – As principais doenças podem ser de origem viral, bacteriana ou parasitária e irão apresentar principalmente quadros de diarreias com ou sem a presença de sangue, emagrecimento, desidratação e fraqueza. A mais conhecida talvez seja a Parvovirose, que costuma ser uma das mais severas desse complexo.

—  Hemoparasitoses – Em especial a Erliquiose, popular “doença do carrapato”, causada por uma bactéria intracelular (Erlichia canis) transmitida pelo carrapato Rhipicephalus sanguineus. Em sua fase aguda pode-se observar febre, anorexia, perda de peso e de força, corrimento nos olhos, sangramentos no nariz e na urina, uveíte anterior, depressão e diarreia. Além dela deve ser mencionada a Babesiose, causada por um protozoário (Babesia spp.), cuja transmissão é igual e os sinais são parecidos ao da Erliquiose, mas tendem a ser mais brandos. Não é difícil de um mesmo cão apresentar ambas as doenças associadas, principalmente os animais resgatados das ruas infestados com carrapatos.

— Leishmaniose Visceral Canina – Doença zoonótica emergente causada por um protozoário (Leishmania infantum chagasi), e transmitida por um inseto (flebótomo), que apresenta clinicamente  muitas facetas, mas costuma cursar com perda de apetite;  emagrecimento progressivo;  feridas na pele (que demoram a cicatrizar), principalmente no focinho, orelhas, articulações e cauda;  pelos opacos, descamação e perda de pelos; crescimento anormal das unhas; diarreia, vômito e sangramento intestinal.

Em gatos:

— FIV – Doença viral multissistêmica que se caracterizará pela queda da imunidade gerando sinais inespecíficos tais como perda de apetite, apatia, perda de peso, vômito, diarreia, doença renal, alterações oculares, neurológicas, hepáticas respiratórias, anemia, febre e tumores.

— FELV – Doença viral que está frequentemente relacionada ao desenvolvimento de neoplasias, como linfomas e leucemias e tendem a apresentar doenças secundárias recorrentes, anemias por conta do comprometimento imunológico que causa e acometimento de diversos sistemas, como o neurológico e o ocular.

Em cães e gatos:

— Raiva – Encefalite viral aguda que provoca importantes alterações sensoriais no animal e é caracterizada inicialmente por mudança de comportamento, agressividade e evoluindo para a paralisia e morte. É considerada uma das mais importantes zoonoses.

— Esporotricose – É uma micose do Complexo Sporothrix schenckii,  caracterizada por causar lesões ulceradas na pele que não cicatrizam e pode apresentar formas sistêmicas mais graves. Além de gatos, a doença afeta os cães e outros animais de produção.

2. O que fazer ao identificar algum desses sintomas no meu animal?

Toda vez que observamos algo de diferente em nossos animais, devemos procurar imediatamente o atendimento de um profissional médico-veterinário. Somente ele poderá executar os exames necessários para diagnosticar o que está acontecendo e conduzir a medida terapêutica adequada para cada caso. Lembrando que há muitos sintomas que são comuns a diferentes doenças e não será uma foto enviada pelo celular  ou um comentário sobre o que o tutor está observando que irá fechar o diagnóstico. O diagnóstico de uma doença é o resultado do raciocínio realizado após analisar o cruzamento de diferentes informações oriundas do exame físico, exames complementares e da anamnese.

3.  Como podemos prevenir a ocorrência dessas doenças?

Para responder a essa pergunta, é muito importante levarmos em consideração a definição de posse responsável.  Santana et. al. (2004)  define como: “É a condição na qual o guardião de um animal de companhia aceita e se compromete a assumir uma série de deveres centrados no atendimento das necessidades físicas, psicológicas e ambientais de seu animal, assim como prevenir os riscos (potencial de agressão, transmissão de doenças ou danos a terceiros) que seu animal possa causar à comunidade ou ao ambiente, como interpretado pela legislação vigente”.

Muito mais que um conceito, a posse responsável diz respeito aos cuidados que o tutor deve ter enquanto guardião de um animal, garantindo saúde, alimentação, segurança, bem-estar, abrigo e qualidade de vida. Todo tutor tem de ter consciência de que ter um animal requer dele condições financeiras, tempo e infraestrutura para se criar um animal da forma que ele ou qualquer outro indivíduo mereça. 

Nesse sentido:

  1. Um animal bem nutrido, criado em um ambiente com dimensões adequadas ao seu porte e com a companhia constante e regular de seu tutor reduzindo o estresse psicológico gerado pelo isolamento e solidão, terá um organismo mais equilibrado e com melhor capacidade de responder a processos infecciosos/parasitários. 
  2. A limpeza regular do local em que ele vive diminuirá a oferta de patógenos pelo ambiente, reduzindo a possibilidade dele se infectar e adoecer. 
  3. Visitas ao Veterinário para avaliação e execução dos procedimentos sanitários preventivos (vacinações regulares), orientações, diagnósticos e tratamentos de problemas já instalados devem ser realizadas conforme a idade e a necessidade do animal.

Não executar alguma dessas ações é assumir uma postura negligente para com seu animal e pode favorecer a ocorrência de alguma doença infecciosa ou não infecciosa.

4.  Quais dessas doenças também têm riscos para os seres humanos?

Das doenças citadas, podemos comentar sobre três delas:

  • Raiva: Em nosso estado, a circulação do vírus na população de animais de companhia está controlada graças ao sucesso das campanhas de vacinação promovidas pelo Ministério da Saúde e executadas pelos municípios. Porém, ainda devemos ficar alerta, pois o vírus rábico ainda circula em animais silvestres como morcegos, micos e canídeos silvestres principalmente. Toda vez que um de nossos “pets” entrar em contato com um desses animais, o seu tutor deve levá-lo imediatamente para atendimento veterinário para avaliação e condução dos procedimentos adequados e necessários à situação.
  • Leishmaniose: Esta doença está condicionada a alguns fatores ambientais como a presença dos vetores transmissores. Ações como controlar ou prevenir sua reprodução ajuda na redução de casos. Outras ações importantes são o uso de repelentes e a vacinação de seus cães.
  • Esporotricose: A melhor forma de prevenir é manter seu gato em casa evitando passeios pela vizinhança. É justamente nesses passeios que ocorre a transmissão que ocorre especialmente entre brigas com outros gatos que podem portar o fungo. Animais em tratamento devem ficar isolados até sua cura.

SANTANA, Luciano Rocha et al. Posse responsável e dignidade dos animais. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO AMBIENTAL, 8º. Anais do 8º Congresso Internacional de Direito Ambiental, 2004. São Paulo/SP. p. 533-552.

Clayton Bernardinelli Gitti

Clayton Bernardinelli Gitti (CRMV-RJ 4712) é professor associado do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), responsável pelas disciplinas de Doenças Infecciosas e Defesa Sanitária Animal.

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