Dia Internacional da Mulher: Doutora em produção animal fala sobre preconceito em campo

A médica-veterinária Ana Bárbara Freitas Rodrigues Godinho (CRMV-RJ 5.656) teve entre as motivações para a escolha do curso a vivência no campo e com os animais. Hoje ela é doutora em Produção Animal e desenvolve atividades de pesquisa, extensão e docência na área de Anatomia Animal.

Quer conhecer um pouco mais da personagem da nossa série “Mulheres que nos representam”, uma homenagem do CRMV-RJ ao Dia Internacional da Mulher? Leia a entrevista completa:

Como surgiu seu amor pela medicina veterinária?

Como qualquer pessoal nascida em cidade do interior, a vivência no campo e com os animais sempre fizeram parte do meu cotidiano. Sou oriunda de São José de Ubá, interior do Rio de Janeiro e sempre tive aptidão para criar e cuidar dos animais. Minhas férias escolares sempre foram no sítio da minha família. Acredito que essa relação muito próxima com os animais e a natureza me ajudaram a decidir a minha vida profissional.

Não tive dúvidas quando em 1993 surgiu o curso de “Produção Animal”, depois “Medicina Veterinária”, na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Era o momento da realização de um sonho sem ter que me deslocar para um grande centro ou outro Estado. Surgiu ali a certeza de que eu estava no caminho certo. A medicina veterinária me encantou e me fez conhecer um universo profissional extremamente dinâmico e cheio de possibilidades. Esse amor sensibilizado na minha infância só foi crescendo e se transformou em uma missão: pensar na medicina veterinária como uma profissão que vai muito além da questão animal. Ou seja, pensar a medicina veterinária como uma profissão que faz parte do conceito de Saúde Única e que pensa a Saúde animal, humana e ambiental.

Como você consegue conciliar sua atividade profissional, ao fato de ser mãe, esposa e mesmo assim exercer a medicina Veterinária com excelência?

Acredito que os atores, nesse cenário social, se complementam. Ser profissional, mãe e esposa me permite desempenhar a real missão de ser médica veterinária: ser ética e responsável, sem perder a ternura e a sensibilidade materna e, muito menos, a parceria e a cumplicidade de esposa. Dessa forma, fica fácil me desdobrar, basta ter profissionalismo, equilíbrio emocional e empatia com as pessoas.

Alguma vez você sentiu na pele indícios de preconceito pelo fato de ser mulher?

Sim, durante as minhas atividades a campo desenvolvidas na pós-graduação, mestrado e doutorado. Sempre trabalhei com grandes animais, em especial, bovinos. As atividades práticas desenvolvidas por uma mulher, a princípio sempre foram vistas com “ar de desconfiança”. Além de questionarem a força física, a ideia de que mulher não domina as técnicas veterinárias realizadas a campo precisava ser desmistificada. No entanto, essa dúvida era sanada à medida que eu mostrava meu profissionalismo e aptidão para trabalhar a campo, como qualquer médico-veterinário.

Quais as recomendações que você daria para que novas mulheres consigam obter o mesmo grau de excelência?

Acreditar nos sonhos e fazer com eles virem uma realidade. Nada acontece por acaso, porém, nada irá acontecer se não nos mexermos ou até mesmo se não nos incomodarmos. Costumo dizer que, só não consigo aquilo que eu não quero. Sendo assim, é válido lutarmos por tudo que queremos e que nos faz bem. Abrir mão dos nossos sonhos, jamais. Eles podem ser adiados, nunca ceifados. Tenho como receita para minha vida profissional, agir sempre com profissionalismo, ética e respeito.

O que acha de, atualmente, as mulheres estarem ocupando cada vez mais posições altas no mercado de trabalho?

“O lugar de mulher é onde ela quiser”. Parece “jargão”, mas isso definitivamente precisa ser interiorizado. Não só pelas mulheres, mas por qualquer indivíduo. Basta querer, lutar, se capacitar e estar preparado para as oportunidades. Neste sentido, todos aqueles que se prepararam, lutaram e que hoje desfrutam de posições de destaque no mercado de trabalho, devem valorizar a caminhada até o topo. Ser autocrítico, reconhecer as próprias limitações, compartilhar conhecimento e ser grato são exercícios diários para se ter sucesso e permanecer em ascensão. Em tempos de reflexão, como os que estamos vivendo atualmente, desejo que os dias 8 de março sejam dias de celebrar a essência feminina, onde a liberdade, a sororidade e o empoderamento se façam presentes em cada mulher.

Ana Bárbara Freitas Rodrigues Godinho

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (1998), mestrado em Produção Animal (2001) e doutorado em Produção Animal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (2005). Atualmente é professora associada da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro e desenvolve atividades de pesquisa, extensão e docência na área de Anatomia Animal.. Tem experiência na área de Medicina Veterinária, com ênfase em Clínica Veterinária, atuando principalmente nos seguintes temas: paratuberculose e tuberculose bovina, anatomia patológica, morfologia e anatomia dos animais domésticos.

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